terça-feira, 22 de setembro de 2009

Análise

"Tao abstrata e a ideia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tao longemente,
E a ideia do teu ser fica tao rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu es, que, so por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusao da sensacao, e sonho,
Nao te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepusculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo."

By Fernando Pessoa, 12-1911

Nenhum comentário: